#10 Cartas para Deus - Testemunho 2
- Ana Flávia Barbosa
- 19 de nov. de 2017
- 9 min de leitura
No último post eu falei que eu queria deixar registrado aqui 3 experiências diferentes que eu tive com Deus, pois eu queria compartilhar com quem viesse a ler o que Deus estava fazendo em minha vida.
Pra quem não leu, aqui está o link.
Acabou que nesse meio tempo mais uma coisa aconteceu, então acredito que eu escreverei sobre 4 acontecimentos. Hoje Deus me pediu pra falar sobre o que aconteceu domingo da semana passada.
Sempre tive muita dificuldade de orar. A coisa toda de ajoelhar no chão e falar com Deus de forma organizada e coerente sempre me pareceu difícil demais. Eu ajoelhava, fechava meu olhos e, de repente, tudo me sumia da cabeça e eu acabava orando só por orar. Falava coisas genéricas, básicas, sem colocar meu coração inteiro ali. Não por falta de entrega, mas por dificuldade mesmo de intimidade com aquela prática. Busquei a Deus e me sentia cada vez mais frustrada por não ser capaz de conversar com Ele. Até que a coisa toda que eu relatei no primeiro testemunho que escrevi aconteceu (post de número #9, linkado acima para quem não leu), na qual eu fui capaz de resolver toda a mensagem que precisava ser entregue através de uma carta, e uma luz se acendeu na minha vida em relação a Deus.
Desde aquela experiência, toda vez que eu me via com dificuldade de ajoelhar e orar eu sentava e escrevia. Deus me deu um dom de escrever. Minha cabeça pensa em mil coisas ao mesmo tempo; na maioria das vezes eu emendo assuntos sem concluí-los quando eu falo, pois o fluxo de pensamentos em minha mente é muito intenso e qualquer coisa me faz perder o foco. No entanto, quando eu escrevo, consigo focar. Sou assim. Sempre gostei muito de ler e escrever e, quando o faço, de alguma maneira tudo se organiza em meus pensamentos.

Então, comecei a escrever. Cartas para Deus. Sim, exatamente isso. Reservei um caderno destinado apenas à isso: para entregar meu coração completamente à Deus, quase como se eu escrevesse para um amado que estava longe, mas que precisava saber do meu amor por Ele; como se eu precisasse me declarar todos os dias, mesmo não podendo tê-lo fisicamente ao meu lado. E foi isso que eu fiz.
Pareceu besteira no início, mas com o tempo fluiu demais e, enquanto eu escrevia, Deus falava de volta. Se eu escrevia no papel uma pergunta que estava em meu coração me atormentando, Ele mudava os sentimentos no meu coração na mesma hora e eu começava a relatar em baixo como a resposta havia surgido em minha mente. Parece estranho, mas não é tanto quanto parece. Deus fala comigo e sempre falou. Percebi que no final desse ano eu completo 6 meses de convertida, mas a sensação é de que eu pertenci a Deus minha vida toda.
Mais uma vez busquei ajuda do Pastor da minha Igreja que faz o meu acompanhamento, o mesmo que me ajudou com a situação do rapaz que eu escrevi no último post, e pedi orientação a ele sobre isso. Não apenas sobre escrever a Deus, mas também sobre sentir que Deus me respondia enquanto eu escrevia. Ele me disse que grandes livros da Bíblia foram escritos assim. O livros de Salmos vieram de um momento em que o Rei Davi estava se sentindo tão triste pelos seus pecados que ele compôs músicas e escreveu hinos à Deus pedindo ajuda. Alguns deles podemos ver nitidamente as súplicas de Davi à Deus e a sua falta de esperança, enquanto em outros podemos ver uma escrita nitidamente inspirada por Deus. O Pastor me disse que isso é um dom e que muitas pessoas do Antigo Testamento tiveram suas grandes experiências com Deus através dessa mesma prática que eu havia adotado e que isso era uma bênção.
Fiquei extremamente feliz e dei continuidade às cartas. Muitas vezes obtive respostas lindas, experiências impactantes e edificantes com o Espírito Santo de Deus que, no próximo post, falarei mais sobre de forma específica. Mas nesse post o que quero contar é sobre domingo passado.
Já havia quase um mês que eu estava escrevendo as cartas à Deus, mantendo essa como a minha prática principal de oração. Muitas vezes, quando a insegurança batia, conversava com o Pastor e ele me acalmava, dizendo que ele tinha certeza de que as cartas eram aceitas por Deus como orações, que eu não precisava temer. Mas meu coração estava angustiado e vou explicar porque.
Quando me converti e Deus acendeu uma luz em cima de mim, pude finalmente ver o quão suja eu estava. Compreendi todos os meus erros e, cada dia que passava, eu me lembrava de uma coisa nova para condenar a mim mesma por ter ferido a Deus. Eu sabia que Jesus era meu Senhor e único Salvador e havia aceitado isso com o coração entregue. No entanto, a culpa se instalou sobre a minha vida de forma avassaladora. Ela era tanta que eu tinha certeza de que eu era indigna do amor de Cristo e que eu não merecia ser salva. Culpa, sentimento de ser indigna, suja, um caso perdido e que Jesus não deveria me aceitar, pois eu não merecia. Os dias eram muito tristes. Quanto mais eu adorava a Cristo, mais eu desprezava os meus pecados e me via como uma pecadora suja e sem valor. Eu queria honrá-lo, mas ao mesmo tempo eu não me perdoava por ter feito tudo que eu fiz. E toda vez que eu era tentada pelo pecado, seja o menor deles ao mais escandaloso, eu me sentia ainda mais indigna. Era horrível, e em minhas cartas eu falava tudo isso pra Deus. Perdi a conta de quantas vezes pedi perdão por diversas coisas diferentes e por diversas coisas iguais de novo e de novo, mas sem obter resultados diferentes em meu coração: eu ainda era indigna.
O meu Pastor teve a oportunidade de ler algumas dessas cartas que eu escrevi, pois a dor que eu sentia era imensa e eu não sabia como lidar com tudo aquilo. Ele me orientou dizendo que no início as coisas eram assim e que isso era, na verdade, um bom sinal, pois uma pessoa que se converte, aceita Jesus e se batiza, mas que não olha pra trás e não se sente mal com isso, não entendeu plenamente o que é se converter. Ele falou que Jesus me perdoava e que uma hora eu iria sentir esse perdão, mas que isso era sim uma coisa boa, pois era um sinal de salvação. Sendo muito honesta, eu tinha certeza de que Jesus me amava, mas continuava a achar que eu não merecia ser salva. Eu entendia a graça de forma intelectual, ou seja, sabia que ela significa favor não merecido e que nenhum de nós realmente merece ou jamais merecerá o sacrifício de Cristo por nós, mas que isso era só uma prova do quão benevolente e amoroso Deus é. No entanto, eu me condenava e me sentia constrangida por esse perdão e achava que Deus não deveria me perdoar.
Estranho, não é mesmo? O que uma boa olhada em nós mesmos é capaz de fazer.
Dizem que quem sente culpa não se arrependeu, mas apenas está sentindo remorso. Mas eu não acredito que esse era o meu caso. Deus me mostrou o que eu fiz. Ele me deu a visão da gravidade de tudo o que eu vivi antes de aceitá-lo e isso foi muito difícil pra mim. Eu só conseguia pedir perdão sem parar, todos os dias sem cessar, mas sem me sentir perdoada. Foi muito difícil mesmo.
Então eu escrevia. Eu falava com Ele todos os dias e pedia perdão. Os meus sentimentos custaram a serem transformados por um bom tempo até que algo aconteceu.
Domingo passado eu acordei de manhã para ir pra Igreja e, em determinado momento do culto, a presença do Espírito Santo de Deus se fez muito presente em meu coração. Fechei os olhos, levantei as mãos, abaixei minha cabeça e comecei a adorar sem parar. As lágrimas escorriam pelos meus olhos e eu não me continha: chorava como uma criança. Meus braços começaram a tremer e eu clamava alto e o adorava. No meio disso tudo, as palavras que eu pronunciava se transformaram em minha boca. Fui tomada por uma tremedeira muito forte na língua e na boca e, de repente, eu comecei a falar em línguas estranhas. Eu chorava, tremia, falava em línguas estranhas e, ainda assim, estava consciente e sabia tudo o que eu estava falando, mesmo sem entender a língua. Foi uma experiência muito forte que me tomou por completo.
No entanto, a experiência que eu quero retratar aqui não é eu falar em línguas. Eu já havia sido batizada no Espírito Santo e falado em línguas, mas naquele domingo a experiência foi muito mais intensa e eu fui tomada de forma plena pelo Espírito do Senhor. No meio disso, eu vi um anjo. Ou pelo menos eu acredito que era um anjo. Primeiro ouvi o bater de suas asas e senti uma presença que me envolvia por completo, como se aquele ser me envolvesse e houvesse um campo de força ao meu redor. Eu tive medo de abrir os olhos, pois a energia era tão forte que eu tinha certeza de que se eu o visse eu ia morrer. Estranho, né? A presença de um ser tão incrível e celestial me dar a certeza de que se eu o visse eu morreria? Então continuei ali, mas o choro só se intensificava. Foi muito forte aquilo. Parecia que cada lágrima que escorria do meu rosto era uma ferida sendo tratada e selada por aquela força. De repente eu o vi. Não de olhos abertos, mas eu o vi. Não vi suas asas, mas vi suas vestes claras, brancas e brilhantes, como se fossem feitas de luz. Ele vinha com uma chave de ouro e enviava no meio do meu peito. Eu senti como se algo quente estivesse me invadindo e me rompendo no meio. Ele girou a chave e abriu o meu coração como se fosse o baú de tesouros. Eu só chorava. Quando ele colocou a mão dentro do baú eu pude ver o que ele estava retirando: cartas. Todas as minhas cartas. E no lugar delas ele colocou uma flor, fechou o baú e o trancou novamente com a chave de ouro. Pegou tudo com amor, sorriu pra mim e então eu já não pude mais o ver.

De repente, meu peito estava leve e eu estava feliz. Eu abri os olhos, inchados de tanto chorar, olhei pro alto e soube que eu estava perdoada. Eu agradeci e agradeci sem parar. Naquele momento, Deus aceitou minhas orações e restaurou o que estava ainda quebrado dentro de mim. Ele me deu o perdão. Aliás, Ele me fez entender o verdadeiro perdão. Perdão que liberta e não que constrange. Jesus me libertou da culpa. Ele recebeu minhas cartas, veio até a mim e, no lugar de toda aquela dor, colocou carinho e amor dentro do meu coração e o selou com a chave que apenas Ele possui. Deus ouviu minhas orações. Deus recebeu minhas cartas e fez questão de me mostrar que a partir daquele momento eu estava livre.
Continuo sendo uma pecadora, como todos nós somos, mas hoje eu sou liberta pela graça de Deus e pelo sangue do cordeiro. Ele me deu o perdão que liberta.
Honestamente, eu cheguei até a questionar a minha sanidade depois daquele culto. Voltei pra casa e procurei dentro de mim aquela dor e aquela culpa. Desapareceram. Eu estou feliz. A vida não é perfeita, eu ainda tenho muita coisa pra melhorar em mim mesma e a Terra continua sendo um lugar onde sofrerei aflições. No entanto, sou feliz porque eu tenho um Deus que me ama. E Ele está comigo. Deus é comigo. Eu o sinto a todo momento. Desde domingo passado, não há um momento em que eu não sinta Sua presença, em que eu não deseje estar com Ele mais e mais. Sou muito abençoada e quero que esse sentimento de entrega se intensifique cada dia mais e mais. Eu sou Dele e Ele é meu. Pra sempre.
Eu precisava contar aqui. Eu preciso que as pessoas saibam que não podem e nem devem desistir. Deus se inclina aos corações sinceros que clamam por Ele. Deus nos ouve. Ele sabe de todas as coisas e, até mesmo nas nossas aflições e dores, Ele tem um propósito e algo muito valioso a nos ensinar. Dessa vez eu aprendi sobre perdão. Faz uma semana hoje e eu não encontrei mais dentro de mim aquela culpa. Ela não existe mais. Ela deu lugar por um sentimento de gratidão e entrega inexplicáveis. Deus é bom! Que Ele seja louvado por todos os povos do mundo, em todas as línguas hoje e sempre. E se Ele fez ontem, Ele fará novamente hoje, amanhã e para sempre, pois Ele é o mesmo! Aleluia! Toda a honra e glória ao único Deus, o Rei dos Reis!
"Bem-aventurado aquele cuja transgressão é perdoada, e cujo pecado é coberto. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa maldade, e em cujo espírito não há engano. Quando eu guardei silêncio, envelheceram os meus ossos pelo meu bramido em todo o dia. Porque de dia e de noite a tua mão pesava sobre mim; o meu humor se tornou em sequidão de estio. Confessei-te o meu pecado, e a minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. Por isso, todo aquele que é santo orará a ti, a tempo de te poder achar; até no transbordar de muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me preservas da angústia; tu me cinges de alegres cantos de livramento. Instruir-te-ei, e ensinar-te-ei o caminho que deves seguir; guiar-te-ei com os meus olhos. Não sejais como o cavalo, nem como a mula, que não têm entendimento, cuja boca precisa de cabresto e freio para que não se cheguem a ti. O ímpio tem muitas dores, mas àquele que confia no Senhor a misericórdia o cercará. Alegrai-vos no Senhor, e regozijai-vos, vós os justos; e cantai alegremente, todos vós que sois retos de coração." (Salmos 32)
Shalom Adonai!
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