#5 Raiva: minha panela de pressão interna!
- afoliveirabarbosa
- 4 de out. de 2017
- 7 min de leitura
Esse post não tem necessariamente uma moral, uma conclusão, um objetivo concreto enquanto eu começo a escrevê-lo. Eu estou agora no final do dia, sentada na cadeira do meu trabalho, tentando lidar comigo mesma e com os meus sentimentos internos que querem explodir que nem uma panela de pressão quente. Sério... Hoje conseguiram me tirar do sério. Sabe o bonequinho da raiva do filme Divertida Mente? Pois é...

Uma pessoa fez uma cagada agora comigo. Acredito que não foi por mal, mas as pessoas tem a mania de se intrometerem na nossa vida sem serem chamadas para participar. E, às vezes, elas tocam em assuntos muito delicados e sensíveis à nós. Começam a dar opinião sobre coisas sobre as quais nós nos sentimos extremamente vulneráveis e inseguros, e não estamos prontos para nos sentirmos expostos dessa maneira... E foi o que aconteceu hoje comigo. Não vou comentar sobre o que foi, mas duas pessoas começaram a dar palpite sobre um aspecto da minha vida que me deixa bem insegura e eu fui me fechando, ficando calada, sem graça e encurralada, até que a raiva tomou conta de mim. Só que bicho quando se sente encurralado e com medo ataca, né?
Pelo menos era assim que eu era antes. Eu atacava, xingava, agredia, esbravejava... Mas agora eu sou de Cristo e meus jeitos precisam mudar. Eu preciso permitir ser uma nova criatura diante do meu Batismo e diante do Espírito Santo. E não quero que os meus velhos hábitos e as minhas velhas reações ainda tomem conta de mim. Jesus morreu na Cruz por mim para que eu pudesse dizer não ao pecado e pudesse resistir ao pecado. "Tudo posso naquele que me fortalece" eu entendo como "tudo posso resistir e melhorar" quando o Espírito Santo de Deus me dá força para resistir o mundo.
Mas como isso é difícil, meu Deus! Eu na hora só consegui fazer as duas pessoas pararem de falar quando eu cortei. Fui até um pouco deselegante, elas entenderam e pararam. Percebi logo que incomodei, mas a conversa cessou. Uma delas foi embora e a outra me deixou quieta e foi cuidar de sua vida. Mas a raiva dentro de mim do desconforto de me sentir exposta, humilhada, envergonhada e ansiosa estava ali borbulhando dentro de mim. Eu queria poder ter cortado de uma forma mais educada, mas elegante, mais como Cristo faria; e imediatamente me arrependi da forma que falei. No entanto, naquele momento eu estava tomada por todos aqueles sentimentos e queria que a situação passasse e que aquilo acabasse, então não me retratei. Fui falha. Não me orgulho. Enfim...
Eu estou escrevendo agora e já se passaram cerca de duas horas desde o acontecido e eu estou ainda aqui fervendo por dentro. Minha cabeça dói e eu não consigo relaxar a minha mandíbula. E aí você me pergunta: porque isso? Bem, o que acontece é que, um tempo atrás, assim que essa situação acontecesse eu teria ido reclamar com alguém, falar mal dessas duas pessoas, xingar muito no Twitter; enfim... teria ido descarregar essa raiva em algum lugar provavelmente em forma de palavras (escritas ou pronunciadas, mas ainda assim falando com alguém). Eu não sou uma pessoa agressiva de querer sair socando os outros, não sou de jurar de morte nem nada do tipo, mas sou de falar e falar e falar até todo o ar quente que está passando pela minha cabeça saia e dê tempo de esfriar os meus miolos. Eu sou de praguejar e xingar muito... Sou de fazer sarcasmo e deboches diversos sobre aqueles que me provocaram esse desconforto até a raiva passar e eu acabar esquecendo disso. Dessa forma, meia hora reclamando e praguejando seria suficiente para me fazer ficar bem e esquecer. Mas e agora que eu sou cristã? Mas e agora que eu olho pra essas duas pessoas e sei que elas são passíveis de erro assim como eu e que merecem não apenas o perdão, mas também o meu amor? Como domar a panela de pressão dentro de mim?
Eu optei por não falar com ninguém. Peguei o celular mais de mil vezes, abri mais de mil conversas no Whatsapp e mais de mil vezes as fechei. Abri o Facebook, pensei em reclamar, cutucar leão com vara curta, expressar toda a minha indignação... Mas não o fiz e me contive mais de mil vezes. Em minha mente eu ouvia uma voz que dizia "abre mão dessa raiva, já passou"; e eu pensava "NÃO! ME DEIXA SENTIR RAIVA, EU QUERO SENTIR RAIVA!". E lá eu ficava, sentada e com raiva, conversando com a voz na minha cabeça, que me respondia "Se Jesus voltasse agora, você gostaria de deixar de conhecê-lo porque estava apegada à raiva?"; e eu respondia "ME DEIXAAAAAAA!", mas morrendo de medo e sabendo que eu estava errada. A voz cessou, mas um desconforto enorme no meu peito começou a gritar dentro de mim. Eu não estava bem. A vontade de ir lá e falar muito sobre isso com alguém, com o único propósito de xingar aquelas duas pessoas, voltou. E minha mão coçava. Minha mente quente, revoltada; meu peito angustiado; minha garganta parecendo que havia algo entalado nela, como palavras que precisaaaavam sair, mesmo que eu sabendo que não deveria permitir. Pensei em Jesus de novo e não senti vontade de orar nem de pegar a Bíblia, o que me fez saber que era isso que eu deveria fazer. Mas não o fiz. Eu não queria. Queria me apegar à minha raiva e à minha noção de que eu precisava de justiça por isso, que elas precisavam ser difamadas, mesmo que só entre os meus amigos, pra que eu me sentisse vingada. E aí eu parei...
Vingada? Vingada, Ana Flávia? Quem você pensa que é?
Guardei o telefone pela milionésima vez e me mantive quieta, tentando me distrair. A raiva, no entanto, não passava.
Um tempo atrás, quando eu me converti e comecei a comunicar aos outros que eu havia "mudado de lado", uma amiga reagiu muito mal à notícia de que eu havia virado evangélica e me disse que ela achava que eu estava procurando por uma religião "fácil". Nossa! Se eu tivesse tempo pra perder, eu chamaria ela pra ver "Olha aqui isso, ó! Coisa difícil demais.. fala agora que é fácil, fala! Fala que eu quero ver!"
Essa religião não é pra iniciantes não, vou te falar uma parada... Não é pra quem tá em cima do muro, porque se não você rapidinho cai de volta pro lado de lá. E é sério isso! Porque o Evangelho nos ensina a constantemente estarmos atentos à luta do Espírito contra a carne, no qual a carne geralmente fala mais alto. Porque FALA e FALA MESMO MAIS ALTO se você não estiver convicto do que você quer pra sua vida e do que você acredita. Apenas com uma vida em comunhão com Cristo que conseguimos vencer essa luta diária. A carne fala alto... E quando eu falo sobre a carne eu não falo apenas dos desejos sexuais (que também são um outro problema por si só), mas falo de tudo que é instintivo do ser humano, sendo a raiva uma delas. No meu caso, até ontem era um problema, mas como eu renasci como nova criatura para uma vida com Cristo, a mulher de antes morreu e eu estou aprendendo a ser melhor e diferente, mais como Jesus Cristo foi. Eu quero poder encontrar com Cristo quando Ele retornar e ouvir dEle "Boa, garota! Mandou bem! Eu me vejo em você!", de tão feliz que Ele vai ficar ao reconhecer em mim o que vem dEle e apenas dEle.
Enquanto eu escrevo isso e penso em Cristo, te falo que a minha raiva já passou. A bipolar louca, né? Parece engraçado, né... Antes eu escrevia para falar mal das pessoas e só assim para me sentir melhor. Agora eu resolvi meu problema escrevendo sobre Jesus e eu já me sinto mais calma. Deus é muito maravilhoso e essas experiências são tremendas pra minha caminhada em busca de mais intimidade com o Senhor. Elas merecem amor. Elas erraram comigo, mas são filhas do Senhor, assim como eu sou. Cristo morreu na Cruz do Calvário não apenas por mim, mas por todos nós. E da mesma forma que eu creio que Ele me perdoa por ainda não conseguir controlar a minha raiva, eu creio que Ele as perdoa por terem me ferido de alguma forma. No mundo habita o maligno e o pecado está em nós; o estigma de pecadores é uma herança que iremos levar conosco até a consagração dos tempos e o melhor que podemos fazer é buscar força no Sangue de Jesus Cristo, para que ele nos lave e nos vista com novas roupagens cheias de Graça, paz, humildade, mansidão, amor e perdão. E só assim, só através desse Santo Sangue, que poderemos vencer esses impulsos da nossa carne e abandonar o nosso eu.
Amar a Deus e escolher Cristo para nossas vidas significa abrir mão completamente do nosso desejo e o substituir pelo desejo do Senhor. Eu aprendi isso de forma racional, mas ainda não aprendi isso como algo instintivo. Sem comunhão completa com o Senhor em todos os momentos do meu dia eu não vou conseguir isso. Talvez seja por isso que Deus tenha me pedido tanto para jejuar, mas jejuar certo. Aprender a jejuar. Mas isso é papo prum próximo post sobre a minha busca pela compreensão do jejum.
Meu coração está leve, minha mente acalmou e eu já não estou trincando minhas mandíbulas. Vou falar com ambas as moças ainda hoje e me retratar. Não sei como exatamente, porque admito que agora eu estou com um pouco de vergonha até... Mas tudo posso naquele que me fortalece e não há nada que entre no caminho de quem queira, em nome de Jesus, pedir perdão. E essa reflexão agora me fez lembrar de uma passagem do Sermão da Montanha, no qual Jesus Cristo ensinou aos discípulos:
"Portanto, se trouxeres tua oferta ao altar, e aí te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão" (Mt 5:23-25)
Deus é lindo e vai nos transformando de Glória em Glória, e Ele tem me transformado e me ensinando com os meus erros, me mostrando em que aspectos eu preciso melhorar para que eu possa ser mais parecida com Ele.
Deus é bom o tempo todo!
E o tempo todo, Deus é bom!
Fiquem com Deus!
Comments